Líder indígena declarou que irá a Brasília pessoalmente “bater na porta” do presidente e cobrá-lo.
O Cacique Raoni, que apoiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e subiu a rampa do Palácio do Planalto ao seu lado no dia da posse, em janeiro, está insatisfeito com a gestão do petista. Em entrevista ao jornal O Globo, o líder da etnia caiapó criticou o chefe do Executivo pela demora em cumprir promessas, e garantiu que o cobrará por isso indo pessoalmente a Brasília, após não conseguir contato com o líder do Planalto há dez meses.
– Ele [Lula] está devagar. Não cumpriu o que me prometeu no dia da posse e por isso vou a Brasília bater na porta dele – garantiu.
Uma das queixas de Raoni é referente à retirada de invasores e outras soluções de problemas dos povos indígenas, como demarcações de terras.
– Não vejo a hora de chegar a Brasília para encontrar com ele [Lula] para falar sobre essas questões. Desde a última vez que encontrei com ele, na cerimônia de posse, ele me prometeu que iria fazer ações em prol dos povos indígenas para que não existam mais essas ameaças e violência contra nós. E isso não está acontecendo. Eu também penso da mesma forma, ele está devagar sim. Por isso, minha vontade de falar logo com ele, então vou lá fazer campana na sala dele até ser atendido. Pressioná-lo para ele cumprir o que prometeu para mim – declarou.
Raoni relembra que Lula e ele prometeram “trabalhar juntos”, mas observa que “isso não está acontecendo”.
– Não falamos mais, passaram-se dez meses. Por isso que tenho vontade de chegar rápido em Brasília para gente conversar sobre as questões indígenas para eu poder ajudar ele. Temos que trabalhar juntos para as coisas acontecerem. Sei que ele está sendo pressionado por deputados e ruralistas, eu sei como é. Mas a necessidade dos povos indígenas é urgente em vários pontos do país. Estão tendo muitas ameaças, violências e não estou vendo o governo cumprir seu papel de proteger contra a violência as comunidades indígenas de todo o país – acrescentou.
Raoni declara que chegou a receber a informação, por assessores do presidente, de que ele havia solicitado uma reunião formal por escrito. Para o cacique, é “difícil pedir assim”, e é necessário “ação”, não “documentos”.
Apesar das queixas, o líder indígena avalia positivamente o trabalho do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e da Funai.
– O trabalho do MPI e Funai está funcionando, disso não posso reclamar. Elas estão trabalhando com muita firmeza e muito compromisso. Em alguns cantos, poucos, garimpeiros estão sendo retirados. Eu fiquei sabendo que na terra dos munduruku devem sair logo. Mas está faltando em território nosso kayapó, dentro do Pará, no Gorotire. Muitos garimpeiros por lá, poluem a água, acabam com a caça. Não tem bonito entre os invasores – assinalou.
Questionado sobre o que irá cobrar do presidente, Raoni declarou que o “primeiro assunto será sobre a demarcação das terras indígenas”.
– Não estou feliz com o que foi feito. Muitos parentes precisam de território demarcado. Muitos deles estão sofrendo e vão sofrer ainda mais pela violência. A saída é a terra ficar com quem tem direito. Todas as lideranças têm me procurado para cobrar isso de Lula – pontuou.