O prefeito de Campo Grande era André Puccinelli (MDB) quando por indicação do médico e irmão Nelsinho Trad (PSD) o advogado Marquinhos Trad (PSD) foi nomeado secretário municipal de Assuntos Fundiários da Prefeitura de Campo Grande. O ano era 2004 e diz a lenda que logo nos primeiros meses de secretariado o serelepe Marquinhos já cercava as servidoras e quem mais usasse saia e batesse às portas da Secretaria Municipal de Assuntos Fundiários. Percebe-se que a pasta que Marquinhos comandava ficava em contato direto justamente com pessoas mais vulneráveis, que precisavam regularizar um terreno invadido; uma casa popular sem escritura; uma área sem documento. A coluna manteve contato com duas pessoas que trabalharam com Marquinhos naqueles anos difíceis e, sob anonimato, elas confirmaram que a libido do então secretário de Assuntos Fundiários apavorava as mulheres do setor e quanto mais jovem maior era o olhar cumprido do assessor de Puccinelli. “Quando precisava despachar com ele no gabinete as servidoras iam quase sempre em duas ou três e raramente entravam sozinhas na sala por causa das gracinhas que ele adorava dizer”, revelou à coluna uma das pessoas ouvidas sob anonimato por medo de represália, já que até hoje trabalha na Prefeitura de Campo Grande. A fonte, no entanto, afirma que não teve conhecimento de qualquer episódio onde Marquinhos Trad teria agarrado alguma servidora ou contribuinte à força, mas reafirma que a maioria das brincadeiras e falas tinha cunho sexual. Esse mesmo perfil teria sido levado para a Assembleia Legislativa em 2006 quando Marquinhos Trad foi eleito deputado estadual pela primeira vez e rapidamente se transformou no terror do assédio às assessoras. Como as peripécias sexuais de Marquinhos Trad seguiam longe dos holofotes e das páginas de jornais, ele acabou eleito para mais um mandato em 2010 e recebeu o título de campeão das urnas ao conquistar 56.287 votos. Um ano depois a mídia nacional repercutiu a fala do deputado Marquinhos na tribuna da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul quando ele afirmou que era impossível viver com salário R$ 11 mil. Na época, quando o salário mínimo vigente era R$ 540, ninguém entendeu a afirmação do deputado, mas hoje analisando as peripécias sexuais do dito-cujo é possível imaginar que os R$ 11 mil deveriam ser mesmo insuficientes para bancar os prazeres da carne. Em 2014, depois de mais um mandato marcado por instalações de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que nunca davam em nada e serviam apenas para promoção pessoal, o David Copperfield do Pantanal acabou garantindo um terceiro mandato e passou a mirar a Prefeitura de Campo Grande. Em 2016, com apoio de Alcides Bernal (PP) no segundo turno das eleições municipais, o mágico acabou eleito prefeito de Campo Grande com 241.876 votos, o que significou 58,77% dos votos válidos, vencendo a então vice-governadora Rose Modesto (PSDB), que obteve 169.660 votos, ou seja, 41,23% dos votos válidos.
Aventuras do Mágico
Sempre fazendo truques mambembes de mágica, o David Copperfield do Pantanal acabou envolvido na primeira denúncia formal de assédio sexual ainda no primeiro mandato de prefeito. A presidente de uma entidade filantrópica de Campo Grande conseguiu agendar audiência com o prefeito e quando chegou no gabinete teria sido alvo de assédio. Sem pestanejar, a moça bateu às portas do Ministério Público e denunciou o episódio, que acabou dando em nada. Em 2018, o mágico acabou na mira da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA) sob acusação de integrar uma rede de exploração sexual de adolescentes, mas o caso subiu para o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul em razão do foro privilegiado por prerrogativa de função e lá no TJ/MS acabou arquivado. Vai vendo!
Reeleição do Mágico
Mesmo com as primeiras denúncias de exploração e assédio sexual explodindo na mídia, ainda que de forma velada e tímida, o David Copperfield do Pantanal foi reeleito prefeito de Campo Grande em primeiro turno, numa eleição em que contou com o apoio do Governo do Estado que optou por não lançar candidatura própria do PSDB para facilitar a vida do mágico. Deu certo! Marquinhos Trad acabou reeleito com 52,58% dos votos válidos, superando concorrentes como o promotor Sérgio Harfouche (Avante), Pedro Kemp (PT), Vinicius Siqueira (PSL), Delegada Sidnéia Tobias (Podemos), Esacheu Nascimento (PP), Marcio Fernandes (MDB), Dagoberto Nogueira (PDT), João Henrique (PL), Marcelo Bluma (PV), Marcelo Miglioli (Solidariedade), Cris Duarte (PSOL), Guto Scarpanti (Novo), Paulo Matos (PSC) e Thiago Assad (PCO).
Assédio de Copperfield
Agora, em plena pré-campanha surgem 8 mulheres acusando o David Copperfield do Pantanal de assédio sexual e o modus operandi narrado pelas vítimas é o mesmo: fazia números de mágica, tentava encantar, prometia algo em troca e partia para o crime. Como não goza (com perdão da palavra) mais de foro privilegiado por prerrogativa de função, já que renunciou ao mandato de prefeito para ser candidato ao governo do Estado, Marquinhos Trad agora figura como investigado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Campo Grande e se, por algum arroubo, tentar se aproximar de uma das vítimas ou levar a efeito qualquer ato que possa ser interpretado como tentativa de atrapalhar as investigações, o pré-candidato pode ter a prisão preventiva decretada pela Justiça. É mole?
Reação das Entidades
Se em 2004, 2006, 2010, 2014 e 2018 tanto a mídia quanto as entidades se calaram, em 2022 a chapa esquentou para os lados do David Copperfield do Pantanal, que precisará fazer muita mágica para não ter a candidatura desandada pelas denúncias de assédio sexual. Em nota pública as seguintes entidades repudiaram contra as denúncias de assédio sexual praticado por Marquinhos: Secretaria Estadual de Mulheres do PT; Marcha Mundial das Mulheres; Secretaria da Mulher Trabalhadora Da CUT; Federação dos Trabalhadores em Educação (Fetems); Coletivo de Mulheres Negras; Rede Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (Dourados); Coletivo Frente de Movimentos Populares do PSOL; Secretaria de Combate ao Racismo e Preconceito do Sintss; Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); CMNEGRAS MS; Coletivo Diversas Feministas; Rede Feminista de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; Grupo Tez – Trabalho Estudos Zumbi; Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro; Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação (Simted/Dourados) e Movimento Mulheres na Política (Dourados).
Copperfield na Mídia
O paradoxo é que o político que inventava CPIs furadas apenas para ganhar holofotes, hoje é destaque nos principais veículos de notícia Brasil afora, sobretudo porque as vítimas que denunciaram o assédio sexual têm o mesmo perfil: mulheres humildes que acabaram atraídas pela promessa de emprego na Prefeitura de Campo Grande. Por ironia do destino, o adorador de CPI deve ganhar a sua própria Comissão Parlamentar de Inquérito nos próximos dias já que o vereador Marcos Tabosa (PDT) está coletando (isso se já não coletou) assinaturas para instalar a CPI do Gabinete do Assédio. A Câmara Municipal de Campo Grande vai investigar o episódio porque os supostos crimes teriam sido praticados em pleno exercício do mandato e a maioria deles no gabinete do próprio prefeito.
Provas contra Copperfield
A Malagueta apurou que o inquérito policial em andamento na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Campo Grande está recheado de provas testemunhais, prints de conversas mantidas por Marquinhos Copperfield com mulheres que teriam sofrido o assédio sexual e geolocalização dos aparelhos celulares para confirmar onde elas estiveram com o mágico e por quanto tempo permaneceram na prefeitura, já que algumas mulheres garantem que foram obrigadas a manter relações sexuais no banheiro do gabinete do então prefeito. O futuro de Marquinhos Copperfield Trad agora será definido pelas próximas pesquisas de intenção de voto para o governo do Estado. Caso os escândalos não tenham contaminado a candidatura, o mágico seguira na disputa e poderá até se fortalecer com tanta exposição, ainda que negativa! Quem viver, verá!