Uma crítica comum ao agronegócio do Brasil é a questão da sustentabilidade. Mitos e interpretações equivocadas de dados geram um ambiente por vezes hostil, que não reflete a realidade.
A tecnologia se tornou um diferencial da agricultura brasileira, permitindo maior produtividade e qualidade, com foco na sustentabilidade. O país é referência global em diversas áreas da agropecuária, em especial no mercado de defensivos agrícolas.
Apesar de haver oposição, a agricultura brasileira utiliza defensivos agrícolas na medida necessária para o controle eficaz de pragas, doenças e plantas daninhas, comuns em nosso clima tropical. Em muitos casos, o uso desses produtos é até menor se comparado a outras nações consideradas mais desenvolvidas.
A indústria tem investido significativamente nos últimos anos para reduzir a quantidade de insumos por hectare tratado. Hoje, há casos de se utilizar menos de 10 gramas de princípio ativo em um hectare, ou seja, cerca de uma colher de sopa distribuída em uma área de 10 mil metros quadrados. No passado, essa conta era feita em quilogramas, em uma redução de aproximadamente mil vezes.
Falando sobre defensivos agrícolas, em particular sobre o destino das suas embalagens plásticas rígidas vazias, surge uma questão relevante. Essas embalagens plásticas, mesmo sem considerar seu conteúdo, têm potencial para causar um impacto significativo no meio ambiente se forem descartadas de forma inadequada. Ao mesmo tempo, não é viável reutilizá-las ou descartá-las em sistemas de reciclagem convencionais, pois o material resultante da reciclagem não deve ser utilizado para produzir embalagens de alimentos ou cosméticos. Este desafio é crítico em qualquer lugar, mas especialmente em um país tão vasto e complexo logisticamente quanto o Brasil.
Nesse sentido, o Brasil se destaca globalmente, já que nenhum outro país realiza algo semelhante em termos de destinação apropriada de 100% das embalagens vazias de defensivos agrícolas.
A base disso é uma legislação federal moderna, ousada e muito clara. Ela determina que a destinação ambiental adequada das embalagens dos defensivos agrícolas é de responsabilidade de seus fabricantes e eles devem garantir seu devido destino (reciclagem ou incineração). O consumidor final, que é o proprietário rural, compra o conteúdo, mas não a embalagem, pois estes têm que, obrigatoriamente, devolver as embalagens triplamente lavadas ou lavadas sob pressão.
Nasceu nesse ambiente, há mais de 20 anos, o inpEV – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias –, uma entidade mantida pelas indústrias de defensivos agrícolas que faz a gestão de um sistema de logística reversa de alcance nacional chamado Sistema Campo Limpo. Digo que o Sistema Campo Limpo é ESG na prática para a agricultura.
Pelo envolvimento de todos os elos da cadeia e, com forte investimento em educação e conscientização, recebemos e demos a correta destinação a mais de 53 mil toneladas de embalagens em 2023. A maior parte desse material recebido foi reciclado em locais apropriados e transformados em novas embalagens de defensivos ou outros artefatos plásticos como conduítes elétricos ou tubos de esgoto, dutos de drenagem, entre outros.
Com esse processo de reciclagem, somente em 2023, evitamos a emissão de mais de 75 mil toneladas de gases de efeito estufada equivalente na atmosfera, que é a medida correspondente ao impacto equivalente do mesmo volume de gás carbônico. Segundo especialistas, uma árvore sequestra cerca de 6 Kg de Co2 por ano, o que significa que o Sistema Campo Limpo evitou a emissão de gases de efeito estufa que exigiriam 12,5 milhões de árvores para sua neutralização. Isso sem contar o fato de que o processo de reciclagem consome menos água e energia elétrica do que a produção de embalagens plásticas feitas com resina virgem.
Em pouco mais de 20 anos, a iniciativa é um sucesso em termos de resultados e eleva o Brasil a um patamar que ele ocupa sozinho em termos de sustentabilidade e proteção ao meio ambiente. Resultado que é fruto de esforços conjuntos e inteligentes de todos os elos da cadeia e gerido por uma entidade que se especializou em desenvolver e implementar estratégias de logística reversa no Brasil.
Por isso, posso dizer sem receio que o agro brasileiro é sustentável, sim.
Marcelo Okamura, diretor-presidente do inpEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias)
Com informações: LVBA Comunicação