O dicionário da língua portuguesa define o substantivo masculino planejamento como ato ou efeito de planejar; como serviço de preparação de um trabalho, de uma tarefa, com o estabelecimento de métodos convenientes; como planificação. Posto isto, fica claro que planejamento é a faculdade de criar um plano para otimizar a possibilidade de sucesso diante de determinado objetivo. Pelo jeito os caciques políticos e gênios da lâmpada que fazem mágica na política de Mato Grosso do Sul andaram cabulando aula na escola da política já que em meio a todos os partidos políticos que estão na disputa nas eleições proporcionais deste ano, apenas dois ou, no máximo, três tiveram o cuidado de se preparar (planejar) para a disputa por cadeiras na Câmara dos Deputados. Mais grave: na corrida pelas 24 cadeiras da Assembleia Legislativa a situação também não é diferente, ou seja, sobrou conversa fiada e faltou planejamento para formar as chapas que serão registradas após as convenções de julho. A situação é tão fora da casinha quando se analisa o que ocorre na disputa pelas 8 vagas de deputado federal que é muito provável que metade delas seja definida pelo critério de sobras partidárias e aí que mora o perigo: para ter direito de participar das sobras o partido deverá conquistar votos equivalentes a 80% do quociente eleitoral, ou seja, com a previsão de necessidade de 150 mil votos para eleger um deputado federal, a legenda estaria apta para ser beneficiada pelo critério de sobras se a soma da votação dos 9 candidatos atingir 120 mil votos. Mais: caso o partido atinja os 80% do quociente eleitoral e seu candidato mais votado não receba, pelo menos, 20% dos votos exigido no quociente, não terá direito às sobras. Vou explicar: o PDT decide lançar chapa para disputar a Câmara dos Deputados e contrariando todas as expectativas (já que não tem candidatos puxadores de voto) recebe 120 mil votos. O número é insuficiente para eleger um deputado federal, mas dará à legenda o direito de participar das sobras partidárias. Contudo, se dentre os 9 candidatos do PDT nenhum receber 30 mil votos (20% dos 150 mil do quociente) o partido não terá direito às sobras, ou seja, nadou e morreu na praia. A exemplo do PDT, que não se planejou para a disputa eleitoral deste ano, tanto que perdeu seu deputado federal para o PSDB, outras legendas tradicionais encontrarão dificuldades para atingir o quociente eleitoral justamente por falta de candidatos com potencial. O MDB do ex-governador André Puccinelli é outro exemplo de legenda que esqueceu que neste ano não haveria coligação nas eleições proporcionais e deixou de formar um time forte para disputar uma cadeira de deputado federal. É muito provável que mesmo com André Puccinelli indo bem na disputa majoritária, o MDB não consiga levar os 150 mil votos necessários para eleger um deputado de forma direta e será preciso gastar um caminhão (Karlos Bernardo, dono da Universidade Central do Paraguai que o diga) para chegar aos 120 mil votos que darão direito de participar das sobras. Mas esse não é um problema apenas de PDT e MDB não, outras legendas tidas como grandes terão que cortar um dobrado nestas eleições.
Matemática Petista
Nesse cenário de dificuldade para eleger um candidato diretamente para a Câmara dos Deputados, a situação do Partido dos Trabalhadores também é complicada em Mato Grosso do Sul. Outrora puxador de votos, sendo o primeiro candidato a superar a marca de 120 mil votos na disputa pela Câmara dos Deputados, o atual deputado Vander Loubet não terá vida fácil para renovar o mandato. Nas eleições de 2018, por exemplo, Loubet viu seu espólio eleitoral ser reduzido para a casa dos 50 mil votos e a chapa petista deste ano não conta com nomes em potencial para atingir o quociente eleitoral. Terá que pedalar muito para conseguir participar das sobras em condições de pegar carona no resultado final. Vai vendo!
Matemática Progressista
Com nomes como o deputado federal Luiz Ovando, que deixou o PSL, e o ex-diretor presidente da Sanesul, Walter Carneiro Júnior, o Partido Progressista deposita todas suas fichas na força política e no poder econômica da ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina Corrêa da Costa, que está empolgada com a possibilidade de ser eleita senadora. Além de Waltinho e Luiz Ovando, que foi eleito na onda bolsonarista de 2018 e sonha em repetir o feito neste ano, o PP tem outros nomes que podem ajudar o partido a atingir o quociente eleitoral e, neste caso, a disputa direta pela vaga ficará entre os dois principais candidatos. É muito provável que eleja um, mas impossível que atinja votação para eleger um segundo pelo sistema de sobras partidárias!
Matemática do União
Resultado da fusão do Democratas (DEM) com o Partido Social Liberal (PSL) o União Brasil é o típico rico que não sabe o que fazer com tanto dinheiro. Dono da maior fatia do Fundo Eleitoral, em Mato Grosso do Sul a legenda não se preocupou em planejar a eleição de deputado federal, que é justamente o que garante acesso aos recursos públicos para financiamento de campanha eleitoral. Neste cenário, mesmo tendo a deputada federal Rose Modesto na disputa pelo governo do Estado, o União Brasil terá gigantescas dificuldades para atingir votação que lhe dê o direito de participar ao menos das sobras partidárias e se conseguir chegar lá dificilmente terá algum candidato capaz de atingir os 20% do quociente eleitoral.
Matemática do Podemos
Partido ligado diretamente à deputada Rose Modesto, o Podemos está melhor organizado que o União Brasil quando o assunto é disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados. Com as candidaturas do Dr. Guto, vice-prefeito de Dourados, e Flávio Cabo Almi (filho do saudoso deputado estadual Cabo Almi), o Podemos tem outros 7 nomes que podem levar a legenda às sobras partidárias. É pouco provável que o partido consiga atingir o quociente eleitoral para eleger um deputado federal de forma direta e a cadeira das sobras será ocupada ou por Flávio ou por Dr. Guto.
Matemática Tucana
A situação mais confortável nesse cenário é a do PSDB, talvez porque o partido se preparou para a disputa enquanto os demais acreditavam que poderiam formar uma chapa vitoriosa a qualquer momento. Com três nomes fortes e com outros 6 candidatos com potencial para puxar votos, o PSDB entra na disputa com a expectativa de eleger diretamente o ex-deputado e ex-secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende e o deputado federal Beto Pereira. Com os alforjes cheios e o empenho do governador Reinaldo Azambuja em fortalecer a legenda, o PSDB ainda espera fazer votos suficiente para garantir uma terceira vaga na sobra partidária, elegendo dessa forma o deputado federal Dagoberto Rabo de Cavalo Nogueira. Foi essa possibilidade que fez o Rabo de Cavalo saltar do PDT para se acomodar no ninho tucano.
Pesquisa de Federal
Para que tudo isso ocorra, no entanto, é preciso combinar com o eleitor. A última pesquisa do Instituto Ranking realizada entre os dias 05 e 09 de abril em Mato Grosso do Sul, junto a 3 mil eleitores de 30 municípios e registrada no TSE com os números MS-09921/2022 e BR-04569/2022, aponta que 73,10% dos eleitores do Estado ainda não sabem em quem votar para deputado federal. Entre os menos de 27% que souberam responder, os preferidos foram a deputada federal Rose Modesto, com 2,30% (ela não será candidata), o governador Reinaldo Azambuja com 2,00% (que também não é candidato) e o ex-secretário de Saúde Geraldo Resende, com 1,80%.
Preferência do Eleitor
Outros nomes citados na mesma pesquisa foram o deputado federal Beto Pereira (PSDB), com 1,60%, a deputada federal Tereza Cristina (PP) com 1,60% (não será candidata), o deputado federal Vander Loubet (PT) com 1,30%, o professor Juari, com 1,10% e o deputado federal Fábio Trad (PSD) com 1,00%. Também foram citados Flávio Cabo Almi (Podemos) com 0,90%, Carlos Marun (MDB) com 0,80%, Waldemir Moka (MDB) com 0,70%, Henrique Mandetta (União Brasil), Victor Tatão, com 0,60%, Dione Hashioka, com 0,50%, Walter Carneiro Junior (PP) com 0,50%, Professor Riverton com 0,50%, Waldeli do Santos, com 0,50 e Dr. Guto com 0,40%.