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Brasil pode atingir uma produção de até 15 bilhões de litros de etanol a partir do milho até 2032, conforme revela um estudo

por Alexandro Zinho
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A pesquisa enfatiza o papel do biocombustível no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e sinaliza os desafios ambientais relacionados à sua produção.

De acordo com a pesquisa da Agroícone, uma consultoria que se especializa em sustentabilidade, em colaboração com pesquisadores nacionais e internacionais, a capacidade de produção brasileira de etanol de milho pode variar entre 13 e 15 bilhões de litros até o ano de 2032. Atualmente, o país produz cerca de 6 bilhões de litros desse biocombustível.

O estudo ressalta a importância da produção de etanol, sobretudo a partir do milho cultivado na segunda safra, como uma estratégia crucial para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Foram analisados os impactos socioeconômicos e ambientais dessa atividade, utilizando 18 indicadores intermediários e três principais: ecossistemas, saúde humana e disponibilidade de recursos naturais.

Adicionalmente, a pesquisa discute como a produção do etanol derivado do milho afeta o bem-estar e a segurança alimentar, com uma atenção especial às populações mais vulneráveis tanto no Brasil quanto no cenário global, ligando suas conclusões aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Milho safrinha: alicerce da produção de etanol

A segunda safra de milho, conhecida popularmente como “milho safrinha”, tem grande importância na agricultura nacional. Esse tipo de cultivo ocorre após a colheita principal e aproveita as condições climáticas favoráveis, atraindo os maiores investimentos dos produtores. No Centro-Oeste e Sudeste, o plantio vai de janeiro a março, enquanto em outras regiões pode se estender até julho, com colheita entre maio e dezembro.

Sofia Arantes, pesquisadora do estudo, destaca que o volume previsto de 15 bilhões de litros de etanol de milho até 2032 não exigirá a abertura de novas áreas agrícolas. “Esse aumento de produção se baseia na utilização da nossa atual capacidade, especialmente no milho de segunda safra”, afirmou Arantes em entrevista à revista Exame.

Na safra 2023/24, o Brasil produziu 6 milhões de litros de etanol de milho, um crescimento de 36% em relação ao ciclo anterior. A expectativa para a temporada 2024/25 é alcançar 7,3 milhões de litros, consolidando o país como o segundo maior produtor global do biocombustível, atrás apenas dos Estados Unidos. Somadas as duas safras, o Brasil deverá colher 127 milhões de toneladas de milho neste ciclo, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Contribuições ambientais e avanços tecnológicos

O estudo também revela que o sistema de produção de etanol de milho, especialmente a partir da segunda safra, tem grande potencial de gerar energia renovável. Anualmente, essa produção pode alcançar 5 bilhões de litros de etanol, 600 GWh de eletricidade e 4 milhões de toneladas de insumos para ração animal, além de reduzir entre 9,3 e 13,2 milhões de toneladas de emissões de CO2 e economizar 160 mil hectares de terra.

Utilizando métodos avançados de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e modelos computacionais, a pesquisa indicou que a produção de etanol de milho fortalece a segurança alimentar, aumenta a renda das famílias do Centro-Oeste e reduz os custos de conformidade com a legislação ambiental. O sistema de cultivo múltiplo, que permite a produção de milho de segunda safra em áreas anteriormente destinadas à soja de ciclo único, contribuiu para expandir em 600 mil hectares a área plantada com milho safrinha, liberando 50 mil hectares para reflorestamento ou contenção do desmatamento.

A expansão da produção de etanol de milho poderá reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 12 milhões de toneladas de CO2e até 2030, podendo chegar a 15,9 milhões de toneladas com a adoção da tecnologia Bioenergy with Carbon Capture and Storage (BECCS), que está em fase de testes no Brasil. Essa tecnologia combina a geração de energia a partir de biomassa com a captura de carbono, removendo-o da atmosfera e potencialmente resultando em uma pegada de carbono negativa.

Novo marco legal para combustíveis no Brasil

A pesquisa também é divulgada no contexto da recente aprovação, pela Câmara dos Deputados, do projeto de lei que estabelece o programa Combustível do Futuro, alterando os percentuais de mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel, e trazendo incentivos ao diesel verde e ao combustível sustentável de aviação (SAF). O novo marco legal define que a mistura de etanol na gasolina poderá variar entre 22% e 35%, com o limite atual em 27,5%.

Etanol de milho e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

O estudo ressalta a contribuição da produção de etanol de milho para vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela ONU. Entre eles estão os ODS 1 (erradicação da pobreza), ODS 2 (fome zero), ODS 7 (energia acessível e limpa) e ODS 13 (ação contra a mudança global do clima). Contudo, a pesquisa faz um alerta quanto ao impacto no ODS 6 (água limpa e saneamento), recomendando que políticas públicas e privadas considerem as especificidades regionais para garantir o uso sustentável dos recursos hídricos.

O sócio da Agroícone e coautor do estudo, Marcelo Moreira, destaca que, embora haja desafios, especialmente em relação aos impactos no uso da terra, o sistema como um todo apresenta avanços significativos em termos de sustentabilidade. “Nosso trabalho propõe uma nova classificação que vincula esses impactos aos ODS, representando um avanço científico, especialmente do ponto de vista metodológico”, afirma.

Apesar dos benefícios apontados, o estudo reforça que a expansão do etanol de milho precisa considerar as particularidades das regiões produtoras, como o Centro-Oeste e estados como Mato Grosso, Paraná e Goiás. Essas áreas apresentam condições ideais para o cultivo de milho safrinha, permitindo uma transição eficiente para o aumento da bioenergia e promovendo benefícios econômicos e ambientais.

Fonte: Portal do Agronegócio

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