Haddad, Ministro da Fazenda, destacou que a ata deixou claro que os argumentos de ambos os lados eram válidos.
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que a ata divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira referente ao Comitê de Política Monetária (Copom) foi bastante técnica e evidenciou que o clima de tensão observado no mercado financeiro após a decisão da semana anterior era baseado mais em boatos do que em fatos concretos.
Na última semana, o Copom reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, passando de 10,75% para 10,50% ao ano, conforme esperado pela maioria. Contudo, causou surpresa com a votação dividida por 5 votos a 4 entre os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aqueles que já estavam na instituição durante a gestão de Jair Bolsonaro. Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti, Ailton Aquino e Rodrigo Teixeira defendiam um corte mais expressivo de 0,50 ponto percentual, em linha com o que foi sugerido na reunião anterior em março.
— (A tensão do mercado) se dissipou com a ata, tinha mais rumor do que verdade. Está tudo tranquilo lá (no BC). A ata fala por si mesmo, foi bem técnica e justifica os dois posicionamentos com muita clareza. Todo mundo que leu entendeu que as questões estão bem colocadas — disse, em conversa rápida com jornalistas em frente ao Ministério da Fazenda.
Haddad disse que a ata mostro que as discussões foram técnicas.
— A ata foi muito técnica, muito adequada, está em linha com o que de fato eu esperava. Eu entendia que eram duas posições técnicas respeitáveis e a ata deixou claro que os argumentos de lado a lado eram pertinentes e defensáveis. Foi bom — disse.
Dada a divisão entre os diretores, o mercado financeiro ficou com a impressão que a divergência poderia ser política ou mesmo de pensamento econômico, considerando que o Copom unanimemente avaliou que o cenário para a inflação estava mais desfavorável. Seria como se os diretores de Lula recomendassem uma “dose menor do remédio” para combater a “doença” – ou seja, um juro menor para o controle da inflação.
Para alguns analistas do mercado financeiro, essa divisão sugere que o comitê poderá adotar uma postura mais flexível em relação ao controle da inflação no próximo ano, quando os indicados por Lula estarão em maioria.
Isso porque o presidente, desde o começo do seu terceiro mandato, tem feito críticas diretas ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, e ao patamar dos juros, que considera elevado. O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro, assim como os de Carolina Barros e Otávio Damaso. O mais cotado para assumir a liderança do BC é Gabriel Galípolo.
A ata mostrou que os membros dissidentes debateram sobre “o custo de oportunidade de não seguir o guidance (sinalização) vis-à-vis a mudança de cenário no período”. Em março, o comitê havia indicado que reduziria a Selic em 0,50 ponto porcentual este mês. Mas, em meados de abril, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou, em evento em Washington (EUA), que o aumento da nebulosidade no cenário poderia levar à redução do ritmo.
A declaração foi dada em um momento de pânico do mercado financeiro, que repercutia a perspectiva de juros mais elevados nos Estados Unidos e a mudança da meta fiscal no Brasil, que foi de superávit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para zero.
“Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê”, explicou a ata.
Haddad disse que já esperava que a ata mostrasse que a divergência se dava em posições técnicas “respeitáveis” e “defensáveis”. Questionado se avalia que o BC deveria seguir o centro da meta de inflação ou a margem de tolerância, o ministro afirmou que a banda existe “para casos excepcionais”. Atualmente, a meta é de 3,0% com banda de 1,5 pp para cima e para baixo.