Home Bastidores De acordo com Haddad, o suposto racha no Copom é mais boato do que realidade

De acordo com Haddad, o suposto racha no Copom é mais boato do que realidade

por Alexandro Zinho
Compartilhe

Haddad, Ministro da Fazenda, destacou que a ata deixou claro que os argumentos de ambos os lados eram válidos.

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que a ata divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira referente ao Comitê de Política Monetária (Copom) foi bastante técnica e evidenciou que o clima de tensão observado no mercado financeiro após a decisão da semana anterior era baseado mais em boatos do que em fatos concretos.

Na última semana, o Copom reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, passando de 10,75% para 10,50% ao ano, conforme esperado pela maioria. Contudo, causou surpresa com a votação dividida por 5 votos a 4 entre os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aqueles que já estavam na instituição durante a gestão de Jair Bolsonaro. Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti, Ailton Aquino e Rodrigo Teixeira defendiam um corte mais expressivo de 0,50 ponto percentual, em linha com o que foi sugerido na reunião anterior em março.

— (A tensão do mercado) se dissipou com a ata, tinha mais rumor do que verdade. Está tudo tranquilo lá (no BC). A ata fala por si mesmo, foi bem técnica e justifica os dois posicionamentos com muita clareza. Todo mundo que leu entendeu que as questões estão bem colocadas — disse, em conversa rápida com jornalistas em frente ao Ministério da Fazenda.

Haddad disse que a ata mostro que as discussões foram técnicas.

— A ata foi muito técnica, muito adequada, está em linha com o que de fato eu esperava. Eu entendia que eram duas posições técnicas respeitáveis e a ata deixou claro que os argumentos de lado a lado eram pertinentes e defensáveis. Foi bom — disse.

Dada a divisão entre os diretores, o mercado financeiro ficou com a impressão que a divergência poderia ser política ou mesmo de pensamento econômico, considerando que o Copom unanimemente avaliou que o cenário para a inflação estava mais desfavorável. Seria como se os diretores de Lula recomendassem uma “dose menor do remédio” para combater a “doença” – ou seja, um juro menor para o controle da inflação.

Para alguns analistas do mercado financeiro, essa divisão sugere que o comitê poderá adotar uma postura mais flexível em relação ao controle da inflação no próximo ano, quando os indicados por Lula estarão em maioria.

Isso porque o presidente, desde o começo do seu terceiro mandato, tem feito críticas diretas ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, e ao patamar dos juros, que considera elevado. O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro, assim como os de Carolina Barros e Otávio Damaso. O mais cotado para assumir a liderança do BC é Gabriel Galípolo.

A ata mostrou que os membros dissidentes debateram sobre “o custo de oportunidade de não seguir o guidance (sinalização) vis-à-vis a mudança de cenário no período”. Em março, o comitê havia indicado que reduziria a Selic em 0,50 ponto porcentual este mês. Mas, em meados de abril, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou, em evento em Washington (EUA), que o aumento da nebulosidade no cenário poderia levar à redução do ritmo.

A declaração foi dada em um momento de pânico do mercado financeiro, que repercutia a perspectiva de juros mais elevados nos Estados Unidos e a mudança da meta fiscal no Brasil, que foi de superávit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para zero.

“Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê”, explicou a ata.

Haddad disse que já esperava que a ata mostrasse que a divergência se dava em posições técnicas “respeitáveis” e “defensáveis”. Questionado se avalia que o BC deveria seguir o centro da meta de inflação ou a margem de tolerância, o ministro afirmou que a banda existe “para casos excepcionais”. Atualmente, a meta é de 3,0% com banda de 1,5 pp para cima e para baixo.

Compartilhe

Esse site usa cookies para melhorar sua experiência. Nós assumimos que você ta ok com isso, porém você também não aceitar. Eu aceito. Não aceito.

Olá, como posso te ajudar?