Fernando Canzian, da Folha de S.Paulo, expôs o desentrosamento entre Lula e o ministro da Fazenda.
O colunista da Folha de S.Paulo, Fernando Canzian, publicou um artigo, nesta terça-feira (7), criticando o notório desentrosamento entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula.
Canzian se baseou nas recentes declarações do chefe do Executivo, durante o programa oficial Bom dia, Presidente, para concluir que “o governo não atacará o déficit nas contas públicas que paralisa o país há anos — desde que sua protegida Dilma Rousseff arruinou o Orçamento”. E expôs a tacanha análise do petista sobre políticas fiscais.
– Eu, às vezes, fico um pouco irritado com esse negócio de déficit primário: vai ser zero, não vai ser zero. Veja, isso é uma discussão que nenhum país do mundo faz – disse Lula.
Lula também declarou que “a dívida pública bruta dos Estados Unidos é 112% do PIB. A dívida do Japão é 235% do PIB. A dívida da Itália é quase 200%. Ou seja, esse não é o problema. Não é o problema ficar só olhando que você não pode gastar tanto. Você tem que saber se você está gastando ou se você está investindo”.
– Mas a diferença fundamental é que os países citados por Lula têm dólares, ienes e euros como moedas. E o Brasil, o real, que se desvaloriza frente a elas cada vez que o país aumenta o rombo em suas contas – observou o cronista.
Fernando advertiu ainda que “desde que o governo abandonou há algumas semanas as metas do arcabouço fiscal que ele próprio criou, os juros futuros de dez anos no país não param de subir, o que limitará investimentos privados”.
– Na entrevista, Lula disse que aprendeu economia com a mãe. O que dona Lindu não explicou é que esses países só podem ter dívidas altas, porque suas moedas são consideradas reserva de valor. E que são ricos, com imensas classes médias. Assim, têm espaço para elevar a carga tributária e diminuir o endividamento em caso de emergência.
O texto finaliza expondo a tentativa frustrada de um governo que não produz, sequer, entendimento interno.
– No conjunto, as declarações do presidente são mais uma facada pelas costas no ministro Fernando Haddad, que vem ensaiando discussões — com medidas impopulares, mas necessárias — sobre ajustes mais duradouros na Previdência e na vinculação de gastos em saúde e educação. Ao que parece, o ministro vai ficar falando sozinho.