Home Bastidores Em discurso na COP28, Lula cobra ajuda financeira de países ricos

Em discurso na COP28, Lula cobra ajuda financeira de países ricos

by Alexandro Zinho
Compartilhe

Presidente do Brasil também questionou gastos de países com armas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (1°), na Cúpula do Clima (COP28), que é preciso reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e acelerar o ritmo de descarbonização da economia. Em discurso na Conferência das Nações Unidas, ele criticou o descumprimento de acordos climáticos e cobrou novamente ajuda financeira dos países ricos.

– O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro a países pobres que não chega – disse.

Lula criticou ainda os gastos de nações com arsenais de guerra e disse ser “inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra”.

– Só no ano passado, o mundo gastou mais de 2 trilhões e 224 milhões de dólares (R$ 10,946 trilhões, na cotação atual) em armas – declarou.

Menções a guerras têm sido uma questão delicada para Lula, cujas declarações sobre os conflitos na Ucrânia e na Palestina já despertaram reações negativas na comunidade internacional. Em uma das falas mais recentes, o petista equiparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao ataque terrorista do Hamas e foi criticado na comunidade judaica.

Confira, na íntegra, o discurso de Lula:

Uma mulher africana, a queniana Wangari Maathai, vencedora do prêmio Nobel da Paz, sintetizou bem o dilema da humanidade em sua relação com a natureza.

Disse ela: “A geração que destrói o meio ambiente não é a geração que paga o preço”.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertou que temos somente até o final desta década para evitar que a temperatura global ultrapasse um grau e meio acima dos níveis pré-industriais.

2023 já é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos.

A humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes.

No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte.

A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes.

O planeta já não espera para cobrar da próxima geração.

O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos.

De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas.

Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega.

De discursos eloquentes e vazios.

Precisamos de atitudes concretas.

Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?

Somente no ano passado, o mundo gastou mais de 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática.

Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas?

A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres.

O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial.

Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, e já não podem alimentar suas famílias.

Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e seus próprios filhos.

A injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que nos afligem.

O mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça.

Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades.

Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. E torna-se incapaz de pensar no amanhã.

Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos.

Significa também ter condições de redirecionar esforços para a luta contra o aquecimento global.

Em 2009, quando participei da COP15, em Copenhague, a arquitetura da Convenção do Clima estava à beira do colapso.

As negociações fracassaram e foi preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015.

Ao retornar à Presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante.

O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime.

É preciso resgatar a crença no multilateralismo.

É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra.

É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados.

Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades.

Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos além de nossas fronteiras.

O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo.

Ajustamos nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos.

Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030.

Formulamos um plano de transformação ecológica, para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia.

Forjamos uma visão comum com os países amazônicos e criamos pontes com outros países detentores de florestas tropicais.

O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis.

É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.

Temos de fazê-lo de forma urgente e justa.

Vamos trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre esta COP28 e a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia.

Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade.

Todos almejamos tornar o mundo capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada.

Como nos convida o papa Francisco na Encíclica “Todos Irmãos”, precisamos conviver na fraternidade.

Muito obrigado.

Com informações: AE

Compartilhe

Esse site usa cookies para melhorar sua experiência. Nós assumimos que você ta ok com isso, porém você também não aceitar. Eu aceito. Não aceito.

Olá, como posso te ajudar?